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Lá por 1925, um senhor chamado Hugo Gernsback inventou o Isolator, uma espécie de capacete de madeira e feltro que se colocava na cabeça das pessoas. Tinha dois buracos para os olhos e um sistema de respiração parecido com o que os mergulhadores usam.
Nem preciso dizer: era desconfortável, pouco prático, quase grotesco. Dizem que, depois de um tempo, dava até tontura. Enfim.
O que me interessa mesmo é o objetivo dele: atenção total.
Acho que o Sr. Gernsback não acreditaria se entrasse num vagão de metrô na hora do pico e encontrasse todo mundo — muitas vezes com fones de ouvido — grudado nos celulares como ventosas. Isso sim não tem comparação.
Ou seja: cem anos depois do Isolator, já não precisamos nos isolar do barulho externo. O barulho agora é portátil, tátil, luminoso. Cabe no bolso. O celular não bloqueia o mundo: ele se infiltra em cada fenda da experiência sem pedir licença. Olhos, ouvidos, mãos, postura, respiração… tudo fica comprometido.
O Isolator era um dispositivo de exclusão: deixava fora o que distraía. O celular é um dispositivo de absorção: não deixa nada de fora. Não exige esforço, não incomoda, não pesa. E é justamente por isso que é tão difícil largar. A atenção, que antes tentávamos proteger, hoje se fragmenta, se dispersa, se negocia.
Talvez o capacete de 1925 tenha falhado porque era visível demais, radical demais. Nos lembrava que pensar exige limites. O celular, por outro lado, vence porque se apresenta como uma extensão natural do corpo, uma promessa de conexão constante — mesmo que, muitas vezes, nos afaste de nós mesmos.
Cem anos atrás, alguém se perguntava como se isolar do mundo para conseguir se concentrar. Hoje a pergunta é outra: o que precisaríamos para voltar a estar presentes no nosso próprio corpo, sem que um objeto capture toda a nossa atenção?
Uma versão mais light do Isolator, talvez… só que os chineses não fiquem sabendo!