
La familia Strode, c. 1738
Fuente: https://commons.wikimedia.org/
Em cidades universitárias como Cambridge, na Inglaterra, os estudantes costumam dividir casas com desconhecidos, unidos apenas pela necessidade comum de um teto. Era assim que vivia Giulia, uma estudante italiana de economia, cuja solidão chegou aos meus ouvidos através de suas reclamações casuais nos corredores da faculdade.
Naquele domingo, convidei-a para almoçar com um grupo de brasileiros. O contraste foi imediato: onde ela esperava encontrar a típica reserva britânica, deparou-se com a cordialidade sul-americana. Os brasileiros a receberam de braços abertos, embora seu inglês fosse mais vacilante do que o dela, aperfeiçoado por anos de estudos na Europa.
Giulia floresceu naquela mesa. Falou em inglês sobre política europeia, teoria econômica, suas lembranças de Nápoles, pulando de assunto com a naturalidade de quem finalmente encontrou ouvidos dispostos a ouvir. Mas quando percebeu que era praticamente a única voz na conversa, parou abruptamente.
“Desculpem, talvez eu esteja falando demais”, desculpou-se, com um sorriso tímido. “É que em casa convivo com estudantes ingleses de ciências exatas, e suas conversas são tão cheias de silêncios constrangedores que sinto que tenho que preenchê-los constantemente.”
Essa confissão revelava toda uma pequena tragédia cotidiana: a daqueles que, sendo naturalmente sociáveis, são condenados ao silêncio por códigos culturais que não compreendem, até que encontram, por acaso, um espaço onde sua eloquência não é um defeito, mas um dom.
