Gente que Cuenta

Aves e mulheres,
por Alfredo Behrens

Ivan Bilibin Atril press
Ivan Bilibin,
Ilustración de “El cuento de Ivan Zarevich, 1901
Fuente: https://www.artbook.cz/

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      O ovo tem fascinado as civilizações. Mas a forma do ovo escapa à cosmogonia, embora tenha uma transcendência fundamental.

O laboratório de design da natureza raramente produz soluções simples. Considere o humilde ovo—sua forma oval é uma resposta inteligente à necessidade aerodinâmica. As aves que se destacam no voo tendem a produzir ovos mais alongados, porque seus corpos aerodinâmicos criam ovidutos mais estreitos pelos quais esses ovos devem passar. Uma adaptação evolutiva molda outra—o dom do voo determina o berço da próxima geração.

A nossa espécie não voa, mas já pensou porque mulheres corredoras parecem ter pelves mais estreitas?

O ser humano nasce de ovo de outra forma, mas o feto, embora precise de uma cabeça grande para tanto cérebro, também precisa passar por um canal estreito para nascer. Na grande narrativa da evolução humana, a pelve feminina surge como protagonista silenciosa de uma negociação biológica extraordinária. Por milhões de anos, nossos corpos foram moldados por forças aparentemente contraditórias: a necessidade de caminhar e correr eretos com eficiência e a exigência de dar à luz crianças com cérebros excecionalmente grandes.

Mas, pelve alargada dificulta correr. Se correr fosse desejável, pelves estreitas seriam uma vantagem, mas são uma desvantagem ao parir. Uma consequência disto pode ter sido que mais mulheres de pélvis estreitas morriam no parto, diminuindo a sua proporção no caldo genético, de forma que as mulheres que sobreviveram eram mais abundantes, por assim dizer, e derivaram a tarefas domésticas no lugar de a correr atrás de animais.

Aves que voam dão lugar a ovos alongados. Seres que caminham eretos, e que pensam muito, precisam de mães com pelves largas. Como estas são menos aptas para correrem, ficaram mais tempo em casa. Assim pode ser surgido a cultura de que mulher não pode concorrer com homem. Cultura esta que sobrevive muito depois de que correr atrás de animais não fosse mais necessário.

Mais interessante do que aquilo do ovo e a galinha, não achas?

Alfredo Behrens Atril press
Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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