Há janelas que dão para o saguão de casas, vidas fechadas, onde o sol parece ter medo de perder o brilho que generosamente oferece à mais ínfima das flores. Algumas dão para becos sem alma, entregues à irreverência dos gatos e à urina noctívaga dos bêbados que ao madrugar suspiram por ruas submissas ao deslize das borboletas. Outras, por caprichosa ignorância, dão para árvores abandonadas à poeira lamacenta dos homens e ao desprezo dos dias.
Absortas em infinitos solilóquios do eu, há janelas que são muros tão opacos como o cavalo que uma noite caprichosa (talvez de verão) Ulisses insistiu em oferecer a Troia. E, às vezes, “em magoados fins de dia”, quando o céu parece não ser mais que uma ilusão e já nada se espera que mereça esperar, há frestas, seres, que nos abrem para o silêncio tranquilo da lua e apontam para a luz insegura da madrugada.