Saudades da tia Júlia, por Fernando Carmino Marques
leer en español
Por cima da cabeceira da cama, a imagem do Cristo, olhar sereno, coração latejante, interrogava-me, quando, altas horas da noite, eu entrava no quarto e em silêncio acendia o candeeiro da mesinha de cabeceira para não interromper o concerto que a tia Júlia, esparramada no sofá da sala, oferecia a todo o prédio, roncando com uma liberdade de alma que só o sono lhe permitia. O Cristo, talvez por não tolerar o cheiro a fumo e a álcool, perguntava-me que destino seria o meu se assim continuasse e outras tantas perguntas que se fazem quando se pensa que a vida é um sapato único que serve a cada pé. Eu amaldiçoando os roncos e evitando aquele olhar serenamente inquisidor, enfiava a cabeça debaixo do travesseiro e só acordava no outro dia com o cheiro sensual do café e o so...