Lembras-te?,
por Fernando Carmino Marques
leer en español Lembras-te do barco adormecido na areia à espera de que a maré o acordasse e levasse para o destino que era seu: o inominável azul, longe dos lívidos horizontes do nosso descorado dia a dia? Lembras-te como submissos à moral da moralidade de outros acatamos a felicidade das sardinhas enlatadas e planeamos piqueniques que nunca fizemos? E, demasiado iguais à janela de um saguão ansioso pela outra fase da lua, forçamos sorrisos e agradecemos a persistente monotonia das coisas ridículas, como se elas fossem a madrugada pela qual tanto esperávamos?Lembras-te? perguntaste-me, sabendo que eu encolheria os ombros, procurando abafar no silêncio o incómodo de pensar que as papoilas voam nas asas das borboletas e que exaustos pela imensidão do céu pássaros mergulham no rio com...