Casas viejas, 1920
Dias desses, de ócio, decidi caminhar pela Rua do Gasômetro. É uma rua especializada em comércio de madeira e acessórios, localizada no bairro do Brás, em São Paulo.
Dos meus cinco aos dez anos morei por lá . Andando achei minha primeira escola. Tive até a ousadia de tentar entrar lá, mas fui delicadamente barrado. Não havia visitas para escolas.
E fui andando … até que dei de cara com um edifício que me vez lembrar do local onde havia morado. Achei estranho … tentar entrar na escola e esquecer de ver onde havia morado.
E fui lentamente andando pelas ruas, quase tateando, para tentar achar a vila onde morei. Sabia que era próxima a linha férrea.
E achei.
A vila Sampaio Moreira. E como a achei pequena. O bom de ser criança é a perspectiva. Para crianças pequenas tudo é maior. Imenso.
Mas ela não era mais. Estava degradada.
Entrei na Vila.
Choro de criança. Uma idosa ao sol, olhar cansado. A rua, antes de paralelepípedos, hoje com remendos de asfalto. Ocupação das calçadas com vasos, lixeiras, carcaças de automóveis.
Fui direto a casa onde morei, junto com minha avó . Um sobrado.
Foi lá onde acompanhei a final da Copa de Mundo de futebol de 1970, entre Brasil e Italia. E que depois aconteceu uma grande festa junina, com direito a fogueira. Domingo ensolarado. A vila toda com bandeirinhas.
Foi lá que aprendi a escrever. Foi lá que cresci sob os olhares de minha mãe e minha avó.
Mas a casa estava com a porta emparedada. Blocos de cimento na porta e janelas !! A pequena varanda toda suja, descascada. Restos de entulho.
Doeu.
Se tivessem construído um desses espigões de moradia doeria menos. Ver um local que faz parte de sua história, em que você viveu reduzido a escombros, doeu.
Deviam ter construído um desses espigões amorfos …
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