Gente que Cuenta

A geografia da memória,
por Alfredo Behrens

Joaquin Sorolla Atril press
Joaquín Sorolla,
Apunte con menú, 1912

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       Num banco de praça em Madri, onde plátanos hispânicos projetavam sombras rendadas, me vi deslizando através do tempo. A luz da manhã criava ilusões, transformando os elegantes edifícios da praça nas fachadas do meu antigo bairro. Por um momento, eu estava caminhando novamente pela Rua Massini em Montevidéu, onde a mesma espécie de árvores alinhava-se como antigas guardiãs da memória.

Ana morava nessa rua. Eram tempos escolares. Sua casa sempre estava viva com movimento – primos, tias, avós fluindo através de cômodos que de alguma forma se expandiam para conter todo aquele amor. O aroma de pão fresco subia da padaria do Senhor Dominguez, seus carrinhos já fazendo suas entregas matinais, deixando um rastro de migalhas quentes e saudações pelas ruas.

“A biblioteca de Alexandria guardava a memória do mundo uma vez”, disse o homem ao meu lado no banco, sua voz me trazendo de volta a Madri. Ele falava de filósofos e autores contemporâneos, tecendo conexões através dos séculos tão facilmente quanto minha mente acabara de tecer conexões entre cidades. As folhas dos plátanos sussurravam acima de nós, seu som o mesmo em qualquer idioma.

Eu queria contar-lhe sobre a geografia da memória – como uma rua de Montevidéu podia de repente aparecer em Madri, como o tempo podia se dobrar feito papel até o presente tocar o passado. Mas meu relógio insistia na realidade; eu tinha um avião a pegar e não podia mais vagar pelas ruas de Montevidéu, minha mente a um oceano de distância do aeroporto! Ao me levantar, a luz do sol tocou as bordas das folhas, e por um segundo, vi todas as ruas ladeadas por plátanos que já conheci, existindo simultaneamente, um mapa de calorosas lembranças se estendendo através dos continentes.

Alfredo Behrens Atril press
Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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