Num banco de praça em Madri, onde plátanos hispânicos projetavam sombras rendadas, me vi deslizando através do tempo. A luz da manhã criava ilusões, transformando os elegantes edifícios da praça nas fachadas do meu antigo bairro. Por um momento, eu estava caminhando novamente pela Rua Massini em Montevidéu, onde a mesma espécie de árvores alinhava-se como antigas guardiãs da memória.
Ana morava nessa rua. Eram tempos escolares. Sua casa sempre estava viva com movimento – primos, tias, avós fluindo através de cômodos que de alguma forma se expandiam para conter todo aquele amor. O aroma de pão fresco subia da padaria do Senhor Dominguez, seus carrinhos já fazendo suas entregas matinais, deixando um rastro de migalhas quentes e saudações pelas ruas.
“A biblioteca de Alexandria guardava a memória do mundo uma vez”, disse o homem ao meu lado no banco, sua voz me trazendo de volta a Madri. Ele falava de filósofos e autores contemporâneos, tecendo conexões através dos séculos tão facilmente quanto minha mente acabara de tecer conexões entre cidades. As folhas dos plátanos sussurravam acima de nós, seu som o mesmo em qualquer idioma.
Eu queria contar-lhe sobre a geografia da memória – como uma rua de Montevidéu podia de repente aparecer em Madri, como o tempo podia se dobrar feito papel até o presente tocar o passado. Mas meu relógio insistia na realidade; eu tinha um avião a pegar e não podia mais vagar pelas ruas de Montevidéu, minha mente a um oceano de distância do aeroporto! Ao me levantar, a luz do sol tocou as bordas das folhas, e por um segundo, vi todas as ruas ladeadas por plátanos que já conheci, existindo simultaneamente, um mapa de calorosas lembranças se estendendo através dos continentes.