Gente que Cuenta

Baile de máscaras,
por Alfredo Behrens

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George Grosz,
Soirée, 1923 (detalle)

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      Em uma tarde portenha, Martín acreditou ter encontrado a mulher ideal no Tinder. Laura era seu nome. Entusiasmado, combinaram de se encontrar no bar Pirandello, em San Telmo.

Na noite do encontro, Martín chegou cedo, nervoso, observando atentamente cada mulher que entrava no bar. Pediu um Fernet para acalmar a ansiedade. Do outro lado do salão, Laura também havia chegado antes do tempo, igualmente atenta a cada homem que aparecia. Na pressa, embora sabendo que as fotos do Tinder costumam ser apenas uma isca, ambos esqueceram de esclarecer como se reconheceriam.

Foi assim que os dois começaram a interagir com outras pessoas que pareciam estar procurando alguém. Martín iniciou uma conversa com uma mulher loira que não se parecia com a foto de Laura no Tinder, mas ele achou atraente. Laura, por sua vez, começou a conversar com um homem que também não se parecia com quem ela esperava, mas gostou de sua companhia.

Enquanto a noite avançava, Martín, como que por acaso, tocou no assunto das máscaras que usamos na vida cotidiana. No trabalho, com amigos, nas redes sociais… Sempre mostrando uma versão adaptada de nós mesmos.

Laura, por sua vez, se perguntou: Quanto do que Martín havia compartilhado no Tinder era realmente ele? E quanto era uma versão idealizada, uma máscara digital criada para atrair?

Passou um bom tempo até que ambos perceberam o engano. Mas já não importava. A noite prometia ser agradável com esses desconhecidos. Afinal, não é toda relação uma máscara que colocamos? Foi assim que Laura foi percebendo que essa confusão lhe permitira ser mais autêntica. Sem a pressão de corresponder às expectativas de seu encontro do Tinder, sentia-se mais relaxada, mais ela mesma.

Talvez, pensaram ambos, essas novas pessoas se revelassem melhores do que as que haviam imaginado online. Ou talvez não. Mas naquela noite, decidiram seguir em frente, deixando cair um pouco as máscaras e se permitindo ser mais genuínos. Afinal, não seriam eles mesmos personagens a procura de um autor?

Alfredo Behrens Atril press

Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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