
Fuente: https://www.nps.gov/
O flash queimou branco. Pronto. Retrato número cento e sessenta e um.
“Perfeito, Sr. Douglass,” disse o fotógrafo.
Douglass assentiu. Sentiu o vazio familiar crescer. Isso era guerra. Não com rifles. Com imagens.
Noite em Cedar Hill. Sua casa em Washington permanecia silenciosa. Outrora um escravo. Agora o americano mais fotografado do seu século. Fatos importavam. A verdade importava mais.
Ele tocou o espelho. Algo faltando agora.
O primeiro daguerreótipo em ’41 havia aterrorizado os proprietários de escravos. Um homem negro em um terno. Costas eretas. Olhar direto. Punhos cerrados. Sem submissão. Sem olhos baixos. Apenas dignidade. Apenas humanidade. Apenas fato.
O poder veio imediatamente. Americanos brancos olhavam fixamente para seus retratos. Não conseguiam desviar o olhar. Não podiam negar o que viam. Um homem. Não uma propriedade.
Mas esta noite, diferente. Cada nova imagem havia levado algo. A coleção crescia. Pendurada em paredes por toda a América. Mas o homem no espelho diminuía.
“Os homens se veem como os outros os veem,” ele havia escrito. Verdade. Perigoso também.
Ele havia escapado da escravidão em 1838. Aprendeu sozinho a ler. A escrever. A falar. Mas isto era diferente. Era revolução através da tecnologia. Daguerreótipo. Enxada da democracia. Permitindo que cada rosto reivindicasse espaço igual na memória americana.
O retrato mais recente esperava em sua mesa. O rosto que olhava de volta: formidável, severo, poderoso. Uma arma contra as mentiras da escravidão. Mas não totalmente ele mesmo.
Palavras de seus dias na Casa Branca com Lincoln ecoavam. Os homens se tornam suas máscaras.
Ele escreveu rapidamente em seu diário: “Homem mais fotografado da América. Menos conhecido por mim mesmo. A sombra cresce. A essência diminui.”

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