Eu vi, e mais, eu vivi, e aconteceu assim. Foi há dias na estação de Metrô da Casa da Música, no Porto. Uma bela jovem, com pouco mais de trinta anos, descia a escada de degraus à minha direita. Na escada rolante à minha esquerda havia um grupo de cerca de cinquenta rapazes, quase todos vestidos de preto. Desci a escada rolante entre os dois, o dos jovens que subiam e o da jovem que descia sozinha. Acontece que quando os meninos avistaram essa menina descendo as escadas, com muita alegria começaram a gritar vivas e vivas e ela virou-se para eles e simpaticamente mandou-lhes um beijo na hora, despertando ainda mais os aplausos dos jovens. Apontando para mim, a jovem disse-lhes que eu era seu pai, então eu tirei o chapéu cumprimentando os meninos. Os policiais que estavam na plataforma se mobilizaram porque, claro, tantos gritos em uníssono eram motivo para saber o que estava acontecendo, mas quando perceberam que não passava de um elogio a uma linda jovem, ficaram parados ali mesmo. Foi um instante, tudo isso não durou mais do que segundos. Quando a escada me depositou na plataforma e me reencontrei com minha filha, nos abraçamos forte, ela ria com inocência e alegria contagiantes. Não pude deixar de me maravilhar por ter presenciado aquele alvoroço digno da recepção da tunisiana Claudia Cardinale quando chegou a Roma. E pensar que me lembro como se fosse hoje, que 35 anos antes, o pediatra americano que atendeu minha filha uma semana depois que ela nasceu me disse que em poucos dias cairia a penugem das costas dela. E lá estava a minha filha agora, ali, arrancando gritos da multidão numa estação de Metrô em Portugal!
Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona estratégia e assuntos interculturais para a escola de negócios FIA em São Paulo y para Harvard Business Education. Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon. ab@alfredobehrens.com