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Eu concluía uma apresentação sobre as dinâmicas de confiança intercultural, quando uma mão se levantou no fundo e a pessoa perguntou: ” Como podemos identificar em quem confiar em diferentes culturas?”
No ato a minha resposta foi teórica demais, e senti que foi insatisfatória. Refletindo sobre o evento percebi que devia ter ilustrado com a minha própria dificuldade quando aluno em Cambridge, quando tive dois supervisores de tese. Um era um indiano de origem tâmil e outro um caucasiano branco inglês.
Poderia se dizer que, pela minha educação, eu teria menos dificuldades em compreender o inglês do que o tâmil. Longe disso. O tâmil era um economista de orientação matemática, alucinado mas muito caloroso, expressivo, gesticulava quando falava, nunca deixou de me olhar no olho. Com ele eu sempre soube que estava no bom caminho ou perdendo ele. Com o inglês foi o oposto. Quando comentava meu trabalho o inglês, entre um “humm e outro humm” olhava para qualquer lugar menos para mim. Com o tempo fui decodificando o significado do tom e o comprimento dos “humms” dele, mas nunca pude sentir exatamente onde estava parado. Ele jamais foi ríspido, como aquele tutor que me recebeu no meu College ao eu chegar em Cambridge. Ao finalizar as instruções para orientar a minha estadia o tutor me disse que durante ela nos cumprimentaríamos estreitando as mãos duas vezes, a primeira já tinha ocorrido ao entrar na sala dele. A segunda seria quando dela saísse dela pela última vez!
Se eu pudesse responder novamente àquela pessoa da conferência, lhe diria que entre povos gregários, como o tâmil e os latino americanos e tantos outros, olhar no olho é essencial para estabelecer algo de confiança. O olhar não apenas capta imagens, ele também transmite emoções. Na falta delas ficamos algo perdidos. Há outros critérios importantes, como a noção do espaço entre as pessoas, os gestos, o tom da voz, a disposição a sorrir. Mas, todos eles, inclusive a disposição a olhar no olho, tem raízes culturais. Por isso a chave para compreender melhor o outro, criando a confiança como ponte, esta em abordar cada nova interação com uma mente aberta, conscientes de nossos próprios vieses e dispostos a aprender novas formas de construir confiança.