Gente que Cuenta

O livro que se recusa,
por Alfredo Behrens

Manuscrito Voynich Atril press
“Sabemos, ou achamos que sabemos, que alguém escreveu essas páginas no século XV, quando a alquimia e a ciência ainda não haviam se separado…”

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       Entre os símbolos enigmáticos do manuscrito Voynich, os significados estão ocultos como as páginas de um livro que Umberto Eco gostaria de decifrar. Sabemos, ou achamos que sabemos, que alguém escreveu essas páginas no século XV, quando a alquimia e a ciência ainda não haviam se separado.

As ilustrações de plantas inexistentes, os diagramas astronômicos impossíveis, as figuras femininas dançando em líquidos esverdeados nos falam de um conhecimento que resiste a ser revelado. Como em The Name of the Rose, cada página do manuscrito sugere um mistério diferente, mas todos convergem para esse código indecifrável.

A narrativa romântica que construímos em torno desse livro-os segredos herméticos, o conhecimento proibido, a sabedoria oculta – talvez seja nossa própria invenção, nossa tentativa de dar sentido ao incompreensível. Será que toda tentativa de tradução não é uma forma de traição? Talvez, como sugeriria Eco, o verdadeiro manuscrito não seja aquele que repousa em Yale, mas aquele que cada intérprete acredita ler em suas páginas, teoria após teoria, decifração após decifração.

Os padrões linguísticos detectados pelos computadores são como frases de um idioma interrompido, congeladas no meio de sua sintaxe, esperando que alguém decifre sua gramática. E nós, leitores desses enigmas, continuamos a tecer teorias sobre seus possíveis significados, porque precisamos acreditar que mesmo no mistério há significado, que todo texto aguarda seu tradutor.

E, no entanto, a análise estatística sugere que pode ser um absurdo elaborado, um texto construído para parecer significativo sem realmente sê-lo. Mais uma vez, peço a Eco que nos lembre de que, às vezes, o significado não está na mensagem, mas em nossa busca obstinada por ele.

E você, caro leitor, quais mistérios você prefere resolver, ou mesmo preservar?

Alfredo Behrens Atril press
Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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