Eu tinha cerca de 14 anos e morava em Montevidéu. O pai de um amigo tinha uma agência de viagens e me ligou para ajudá-lo. Ele me pediu para guiar um grupo de turistas americanos que visitaria alguns lugares de Montevidéu. Eram pessoas bastante idosas, e entre elas uma senhora chamou-me a atenção porque colecionava pedrinhas em todos os locais onde parávamos. Ela explicou que estava levando as pedrinhas para os netos. Eu disse a ela que tinha uma coleção de pedrinhas muito mais bonita em minha casa e que as levaria com prazer para ela. Ao que ele respondeu que me pagaria um dólar por eles. Naquela época, um dólar para uma criança era muito dinheiro. Hoje seriam uns dez dólares. Naquela noite, em casa, contei à minha mãe que havia ganhado um dólar e enchi uma caixa de chá inglês com minhas pedrinhas. Acomodei-os entre pedaços de algodão para não arranharem. Tampei-os e fechei com fita adesiva. No dia seguinte, quando entreguei a caixa, a senhora me disse que gostaria de ver o conteúdo antes de me entregar o dólar. Ela deve ter notado minha expressão de espanto diante do que considerei uma ofensa: que ela pudesse acreditar que eu teria lhe dado uma caixa fechada com pedras que não mereciam a atenção de seus netos. A caixinha continha o melhor que eu poderia ter dado a ela. Mas é claro que ela não sabia e, na minha idade, a única maneira de proteger a minha honra era recusar-me a receber o dólar dela e dar-lhe a caixa de presente. E foi o que eu fiz. Ela abriu a caixa e quando percebeu que as pedrinhas eram realmente maravilhosas, pelo menos para uma criança, quis me dar o dólar e eu recusei novamente. Foi assim que ela entrou no avião, sabendo que havia me ofendido e que não haveria como reparar o dano que ela havia me causado. Foi aí que minha carreira empresarial terminou.
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