Pó de estrelas, por Alfredo Behrens

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Juan pode ser fruto dos livros que seus pais leram.

Nunca liam para Juan, não tinham tempo. Eles brigavam muito e o pai de Juan abandonou a casa e os livros quando Juan ainda era criança. A mãe guardou os livros num sótão como pondo um cordão sanitário entre Juan e os livros do marido fugido.

Com o tempo, Juan descobriu aqueles livros e começou a lê-los. Foi assim que ele descobriu seu pai. Um desses livros se chamava Desfile de estrelas. Era sobre as próprias estrelas, suas distâncias, luminosidade e outras ervas. As estrelas tinham nomes como Sirius, Betelgeuse. Nada a ver com as revistas de astros que sua mãe lia, na revista Écran. Por lá desfilavam estrelas de cinema com nomes como Elizabeth Taylor e Kim Novak.

Juan cresceu e descobriu outro livro de seu pai: Além do Rio das Mortes, e esse foi seu primeiro contato com o Brasil, um país que parecia tão distante quanto as estrelas de seus pais. De sua mãe, Juan leu os livros de arte e de Lobsang Rampa. Lá se falava do terceiro olho, que não era o olho cego que Juan descobriu mais tarde, mas um olho que permitia às pessoas ver a aura.

Ou seja, lendo os livros de um e outro, Juan cresceu tropeçando entre os mundos factuais de seu pai e os fabulosos de sua mãe, ambos muito distantes da sua realidade. Talvez seja por isso que Juan nunca se encaixou na escola. Dizia-se que era raro. Talvez continue sendo. Mas Juan fez o que pôde. E talvez seja como todos nos tornamos, feitos que somos do pó de estrelas.

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