Uma vez por ano, é a vez dos brasileiros enlouquecerem, algo verdadeiramente invejável.
Como toda loucura, possui diversas formas de expressão. Estou me referindo aos dias de Carnaval e vou contar para vocês.
Há escolas de samba, que ao longo do ano preparam um desfile apoteótico que conta uma história representada por diversas alas de fantasias diversas feitas de papel, lantejoulas, penas e pedras falsas, músicas especialmente compostas, uma homenagem aos integrantes mais velhos, um casal porta estandarte e mestre sala que lembra os tempos do Império. Enfim, algo muito sério e bem-preparado em que quatro mil pessoas ou mais apresentam um desfile impecável para o qual têm apenas cinquenta e cinco minutos e que será avaliado por um júri que decidirá quem ganha naquele ano. Diríamos que eles são os loucos mais sensatos.
Mas agora vamos com o grupo dos malucos mais malucos. Amigos do bar, da praça, do bairro se reúnem e, embora possa parecer contraditório, organizam um desfile improvisado onde vale tudo. Esses são os blocos. Não importa quantos anos você tem, o que você faz ou quanto ganha, em que região da cidade você mora… o que importa é que é um direito seu inalienável e você sai para exercê-lo. Cada um fantasiado, cada um vivendo sua fantasia e todos na rua, com os instrumentos à disposição e cantando as mais conhecidas marchas carnavalescas. Aqueles com menos de 100 pessoas desfilam o melhor que podem, no meio do trânsito se necessário. Os maiores blocos pedem ajuda às autoridades. Eles fazem o que podem: fecham ruas, desviam o trânsito de automóveis e recomendam que as pessoas se hidratem e se alimentem bem. Eles podem ir tão longe. Embora os blocos possam começar a desfilar semanas antes do Carnaval, eles saem oficialmente de sábado até a Quarta-feira de Cinzas e no final de semana seguinte encerram com a chamada Ressaca de Carnaval. Uns vão embora e outros chegam numa efervescência contagiante em que cada um drena seus males, recarrega sua alegria e acumula para o resto do ano.
Concordei com Suse Kater em apresentá-los a quatro mãos, o que acho que é mais bem transmitido.
A tudo isso, meus amigos me contam que os blocos aumentaram em número e tamanho após a proibição de sair de casa imposta pela COVID. Ninguém gosta de ficar enjaulado, muito menos os brasileiros… Terra adorada!