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No prédio de serviços públicos, o ar era pesado de cansaço. Pessoas arrastavam-se pelos corredores, perdidas entre guichês e burocracia, sem a certeza de onde resolveriam seus dilemas. Eu, como alguns outros, esperava sentado, resignado à minha vez.
De repente, uma mulher de uns quarenta anos, óculos de lentes grossas e cabelo preso, passou apressada à minha frente. Erguia a mão direita com um cartão de identificação, como se acenasse para alguém. Atrás dela, um ancião de passos arrastados e costas curvadas, magro, seguia perguntando o que havia acontecido.
Sem lhe prestar muita atenção, talvez por isso o cartão estivesse tão alto, ela respondeu com impaciência: “O chip morreu.”
Ele se persignou, murmurando um “Que em paz descanse”, e com a voz trêmula inquiriu: “De que morreu?”
Ela repetiu, ainda mais impaciente: “O chip, pai, foi o chip que morreu!”
“Coitado, quando foi?”, ele lamentou. Os dois se afastaram por um corredor, e não consegui mais ouvir a conversa. Mas com o canto do olho, vi o homem sentado ao meu lado sorrir. Embora a cena tivesse algo de trágico, ela também possuía o caráter altruísta da cena de Pero amamentando seu pai Cimão, condenado a morrer de inanição em uma prisão.

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