A mensagem precisava ser enviada, mas como? Os olhos do regime do Saddam Hussein estavam por toda parte, e aquela descoberta era grande demais para ser perdida. O engenheiro coçou a cabeça, enquanto observava a paisagem árida do Iraque através da janela do trailer que servia de escritório. O ano era 1977, e o primeiro choque do petróleo ainda reverberava pelo mundo, tendo empurrado o Brasil para uma busca desesperada por ouro negro em terras estrangeiras.
Tudo começou quando o presidente Ernesto Geisel, ele próprio um ex-presidente da Petrobras, deu a ordem: “Vão para onde for preciso, mas encontrem petróleo!” A estatal brasileira, ainda novata no jogo internacional, acabou chegando atrasada na partilha dos campos iraquianos. Sobrou-lhes um lote aparentemente sem graça, próximo à fronteira com o Irã. “Melhor que nada”, pensaram os diretores na época.
Agora, ali estavam eles, um punhado de brasileiros no meio do deserto, sob um sol inclemente que castigava dia após dia. O termômetro não perdoava, e a insolação começava a afetar até os mais resistentes da equipe. Os dias se arrastavam entre perfurações e análises, até que aconteceu: a broca encontrou algo. E que algo! Não era apenas petróleo, era o que viria a ser conhecido como Majnoon, um dos maiores campos petrolíferos do mundo.
O engenheiro pegou outro gole do café já quente pelo calor e olhou para o telex. Como avisar a matriz no Brasil sobre a descoberta sem que o regime de Saddam Hussein interceptasse a informação? Foi então que um sorriso surgiu em seu rosto. Se já andavam dizendo que a insolação no deserto estava deixando a equipe delirante, por que não usar isso a seu favor?
Sentou-se à máquina e começou a digitar algo que chegou no Brasil como: “URGENTE O TATÚ SAIU DA TOCA STOP TEM CRIOULO CORRENDO SOLTO NO DESERTO STOP . REPETINDO O TATÚ SAIU DA TOCA STOP MAIOR TATÚ JÁ VISTO NESTAS BANDAS STOP NECESSÁRIO PREPARAR TOCA MAIOR URGENTE STOP”
Para qualquer espião iraquiano, aquela mensagem pareceria apenas mais um relato do delírio causado pelo sol inclemente do deserto – um grupo de brasileiros alucinados vendo animais e pessoas correndo pela areia. Mas em São Paulo, os executivos da Petrobras comemoraram. O código improvisado funcionou perfeitamente: o tatu que cava buracos e o “crioulo” – código para o petróleo negro – haviam sido encontrados, e em quantidade impressionante.
Anos depois, quando a história já podia ser contada, os veteranos da Petrobras ainda riam ao lembrar como uma suposta loucura causada pela insolação havia servido de disfarce perfeito para comunicar uma das maiores descobertas petrolíferas do mundo. A criatividade brasileira, mais uma vez, havia provado que podia vencer até mesmo os desafios mais improváveis no outro lado do mundo.