Quero pegar um ônibus na beira da estrada …. sem ver para onde vai …. sem saber o número da poltrona …. descer quando os intestinos pedirem … E voltar e pegar outro, no sentido contrário… ou no sentido perpendicular …
Quero andar sem bagagem … sem documento … sem máscara…. com a janela aberta … vento batendo no rosto até tirar o ar…
Quero sair … beber …. olhar as estrelas … Perder o rumo de casa … sentir a madrugada esfriar minha pele …
Quero perder o rumo de casa … comer o misto quente da madrugada … sentir a cama girar pelo quarto … rir … concordar discordando … achar que não estou nem aí…
sem ter o amanhã … apenas o agora … e apagar e dormir. … E a doce ressaca matutina…
Quero olhar uma pintura até a vista embaçar … ir a um museu e sentir seu silêncio respeitoso …. seu cheiro do ar condicionado …. quero sentir a textura de uma escultura ….
Quero andar pela cidade, sem rumo, num dia cinzento …. com aquela garoa miúda caindo ao meu redor …. embaçando os óculos …
Quero de volta a liberdade que perdi … quero poder falar à vontade …. jogar conversa fora, como um objeto valioso… como oferenda …sem maldade … sem se sentir maldoso …. sem cobrança…. sem amigos … sem inimigos …. sem esquerdos … sem direitos …
Quero um dia após o outro … dia igual ao outro … com sol …. com chuva …. sem vento
.. com brisa praieira …. cheiro de maresia ….
Quero ouvir o vento nas árvores… quero ouvir troncos de bambu gemendo ao vento … quero sentir cheiro de terra molhada …
Quero sair … quero ficar …