Ao ler a crónica da Lucy para esta semana, que aliás recomendo, lembrei-me de um aparelho muito particular usado não só no Natal, mas em quase todas as festas. É isso mesmo: a enceradeira.
Na verdade, era o último passo no processo de limpeza do chão. Primeiro usavas, não sei se te lembras, uma vassoura, depois passavas o rodo e pano de chão, depois trocavas o pano por um seco, impregnavas em cera líquida, esperavas que secasse e finalmente vinha a enceradeira.
Geralmente, depois da vassoura e do rodo, começava o “sai da frente que eu estou limpando”. “Não, não a convides hoje porque estamos ocupados. “Já te disse para brincar em outro lado”, e a verdade é que era melhor ir embora, porque se te tornasses demasiado óbvio, começava o “ajuda-me aqui”, quase sempre com as tarefas mais chatas, como limpar os balaústres das janelas, que nunca mais acabavam.
A melhor parte era quando eu saía com um adulto para comprar coisas de última hora, ou para ir ao cabeleireiro, o que acontecia quase sempre, e quando voltava encontrava aquele cheiro delicioso a cera que inundava a casa toda.
A cera, se bem me lembro, vinha em cores vermelhas, verdes e neutras. A da minha casa era vermelha e, mais uma vez, tinha um cheiro divino. Lembro-me também que a enceradeira, além daquelas três escovas mágicas, tinha uns feltros que se podiam adaptar para melhorar o acabamento.
É pena que não os possa imitar, mas o som que fazia era mais ou menos o seguinte: “huuuuuuuuuuuu” na ida e “hoooooooo” na volta, previsível, ritmado e não sem uma certa resignação. Era perfeito e, quando terminava, desligava-se o cabo muito comprido que tinha e enrolava-se nas suas orelhas de metal.
Depois vinha a festa propriamente dita, mas acho que, à exceção das minhas piñatas, os preparativos eram sempre mais divertidos. Pergunto-me se foi por causa disto que nasceu a minha vocação de produtora: para que deixassem de me amolar, para que eu pudesse preparar a minha própria festa e passar a enceradeira em paz e do meu jeito. Pena que já não se usam mais…