Foram as minhas conversas com o Sr. Olegário Pimenta que transformaram a minha compreensão do próprio conhecimento. Era um homem que, apesar de não saber ler nem escrever, possuía um coração de filósofo – a sua sabedoria dizia muito sobre como a ligação humana transcende as barreiras convencionais da educação e da classe.
Numa tarde de tempestade, enquanto eu observava as ondas gigantescas a baterem na praia de Provetá, Olegário aproximou-se com uma observação reveladora: não que o mar estava forte, mas que era forte. O que se seguiu foi pura poesia envolta em observação empírica – ele explicou que as poderosas ondas do mar só podiam subir tão alto porque tinham algo em que se apoiar, uma intuição que ecoava princípios fundamentais da física.
A sua teoria sobre o fundo do mar, nascida de anos de observação prática, desafiou a minha compreensão académica, ao mesmo tempo que revelava verdades profundas sobre a natureza do conhecimento. De cada vez que levantava a âncora, independentemente da distância da costa, surgia areia idêntica àquela em que nos sentávamos. Isto levou-o a uma conclusão elegante na sua simplicidade: a praia devia estender-se eternamente por baixo das ondas, com uma base impermeável que impedia o oceano de se infiltrar no nada.
Quando lhe perguntei sobre o que haveria mais adiante, respondeu com a certeza dos empiristas: “Mais areia.” Mas o que verdadeiramente o intrigava era o mistério das marés – para onde iria essa água toda durante a maré baixa? Quando sugeri que a maré baixa num sítio significava maré alta noutro, ele contestou com a sua própria prova observacional: o pequeno lago atrás da sua casa nunca apresentava água mais alta de um lado do que do outro. A sua lógica, embora cientificamente imprecisa, demonstrava a beleza do pensamento empírico – um lembrete de que a busca da compreensão é fundamentalmente humana.
Ali estava eu, humilde e comovido, ao lado de um homem que, armado apenas com uma âncora e uma corda, se debatia com as mesmas questões fundamentais que tinham ocupado Galileu e tantos outros pensadores ilustres. As suas investigações, nascidas não dos livros mas do profundo envolvimento com o seu ambiente, revelaram uma verdade essencial sobre a natureza do conhecimento – como a compreensão cresce a partir da experiência direta, e como a sabedoria pode emergir da observação atenta, mesmo sem o benefício da educação formal.