
Hombre afilando una pluma, 1632 (detalle)
Um amigo me disse que as pessoas escrevem por vaidade. Há algo de verdade nisso. Entretanto, ao escrever, a pessoa refina seus pensamentos. É como se olhar no espelho. A diferença está em que no papel nós podemos riscar e reescrever. Há muito disso também. Eu risco e reescrevo. Cada vez menos. Não porque não me preocupe menos com a minha aparência, o que também passou a ser verdade. É que sinto que não tenho tempo para escrever tudo o que quero dizer.
Talvez em tempos mais lentos fosse diferente. Agora é possível reescrever sem deixar rastros das correções. Nem sempre foi assim. Não só porque era difícil reescrever na argila. Basta pensar em como era lento usar uma pena para escrever. Cada gota de tinta era suficiente para escrever até meia dúzia de palavras. Além disso, a pena tinha de ser afiada de tempos em tempos. Ainda, era necessário arrancar a pena de um ganso. As penas para voar eram as melhores para escrever. Em outras palavras, para que o escritor voasse era necessário que um pássaro ficasse aterrado e com dor. Quem sabe fosse essa a razão pela qual herdamos tantos escritos lúgubres.
Além disso, naquela época, saber escrever era um privilégio de poucos. Escrever com penas de ganso, mais ainda. Significava que o escritor tinha gansos. A maioria dos escritores escreveriam com penas de galinha. Mas esses não aparecem nas pinturas da época. Os que mais aparecem são aqueles que escreviam, ou fingiam escrever, com penas de cisne. Diz-se que escreviam melhor, as penas, não as pessoas que podiam comprá-las. Mas o que é certo é que eles tinham dinheiro suficiente para se fazerem retratar segurando uma pena de cisne. E é assim que a história é escrita e pintada. Os cisnes depenados não aparecem nas pinturas, tampouco minhas rasuras, embora eu escreva como com uma pena de galinha, o que talvez de para perceber.

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