Trabalho no Instituto Superior para a Inconsistência Generalizada (ISIG) e gosto. A minha função consiste em aplicar várias horas por semana cuidados paliativos a quem sofre de inconsistência patogénica. São jovens, moçoilas e moçoilos de bigode espevitado, empurrados pelo sistema para o Instituto na expectativa de atenuar o mal que desde cedo vêm padecendo: Inconsistência degenerativa. Relutantes de início, alguns acabam por se habituar àquela rotina, outros vivem a estadia como uma colónia de férias: a maioria suporta-a por castigo. Entre os colegas há menos de meia dúzia por quem sinto aquele sentimento humano a que damos o nome de amizade: é uma confiança serena e muda. Os outros, se involuntariamente nos cruzamos nos frios e extensos corredores baixamos a viseira empunhamos a espada prontos para o confronto rosnado que a hipócrita regra de cortesia impõe.
Como animal esfomeado, nos primeiros meses fiquei agradecido pelo magro, mas real, salário que recebia à hora certa e me permitia supor que iria enfim poder esticar o pescoço e ver um pouco mais longe que a janela do saguão do vizinho. Enganei o emprego e a mim. Não tardei a perceber que tinha por vontade própria entrado no purgatório de ilusões, mas estou agradecido ao Instituto Superior para a Inconsistência Generalizada (ISIG) e apaticamente satisfeito: aprendi a virar as costas ao sonho.