Gente que Cuenta

Esqueletos,
por Alfredo Behrens

Pablo Picasso Atril press
Pablo Picasso,
Guernica (detalle), 1937

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     Ela acordou e vestiu a filhinha e sem sequer café da manhã saiu à rua, sob o mesmo céu encoberto, anunciando chuva. Olhava para atrás como se temesse que alguém a seguisse. A criança reclamou, mas ela prometeu que iriam a um país ensolarado. A menina só conhecia de sorvetes. Não sabia de países. Mas deve ter achando que com sol seria melhor e em silencio lá foi com a mãe.

Quando chegaram no tal do país ensolarado, a mãe arranjou um trabalho e marido bom que a aceitou com a criança. Alguns anos depois, a criança entrou na idade escolar e foi por essa época que o passado alcançou a mãe. Ela tinha fugido, e tinha razão para isso. Agora precisava lutar pela sua vida sem contar a ninguém sobre a sua vida pregressa.

Mas o cerco ia ficando mais estreito. Assim como com o marido davam tapas na torneira da pia da cozinha para ela funcionar, aos tapas a mulher defendia a vida dela. Na escola a criança começou a desenvolver comportamentos antisociais, que precisariam de acompanhamento psicológico. Mas a mãe temia que o que a filha revelasse para os psicólogos poderia descortinar o seu próprio passado. Quem sabe isso poderia levar a ter de abrir mão da filha. Inclusive o marido começou a suspeitar que poderia haver algo mais que ela não compartilhava.

O cerco ia se estreitando qual aperto de Anaconda, a cada respiro a situação dela ficava mais difícil.

O que você faria? me perguntou a minha mulher. E eu pergunto a você, caro leitor. Já descortinastes todos dos esqueletos do teu passado, ou vives com eles em gavetas no armário?

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Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona estratégia e assuntos interculturais para a escola de negócios FIA em São Paulo y para Harvard Business Education.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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