Essa gente, por Luli Delgado

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No Rio de Janeiro faz sempre calor e é uma cidade que se sabe linda e inesquecível. Talvez por isso não siga regras rígidas, e entre praia, futebol e samba tenha criado seus próprios códigos.

Ninguém se surpreende ao ver pessoas de sunga ou biquíni cantando em um bar muito depois do anoitecer, ou que porteiros e garções estejam no mesmo lugar desde que todos se lembram.

A praia é o quintal de uma cidade que está sempre meio despida, que sua, e dança, discute futebol e política, e encontra graça em qualquer tragédia.

Assim é a cidade de Chico Buarque. Ninguém como ele a entende, a conhece, a exalta e ninguém como ele ri com ela.

Desta vez apresenta-a pelos olhos de Manuel Duarte, um escritor em crise cujo principal pesadelo é ter sido tão famoso. Duarte e as suas glórias passadas, Duarte e as suas mulheres, Duarte e uma criança que restou de um dos seus amores. Filho de alguém ilustre e agora na bancarrota, Duarte já não é sócio do clube mais importante. Agora ele vai como convidado e isso porque um dos sócios paga a conta.

Duarte está atordoado com sua condição de pobreza recém-adquirida e não sabe como administrar dívidas, mas empurra com a barriga, talvez no processo de escrever uma outra genialidade ou consagrar seu fracasso. Nem ele mesmo sabe.

É um personagem tipicamente carioca, e quem conhece a cidade jura que já o viu por aí mais de uma vez.

Paralelamente, a Cidade Maravilhosa, como o poeta a chamou, se divide entre bandidos, traficantes e policiais, cenário das idas e vindas de Duarte.

Essa gente, de Chico Buarque, não poderia ser mais carioca ou mais envolvente. Talvez por não ter mais páginas, mas isso sempre acontece com Chico, que nunca deixa espaço para o tédio.

Autor de outros livros e peças teatrais, além de uma extensa carreira na música popular brasileira, Chico Buarque foi agraciado com o Prêmio Camões, a maior distinção da língua portuguesa.

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