No meio do vale de livros, enfileirado entre as dezenas de pessoas a espera de um autografo, eu o reconheci. Não pelos óculos redondos de tartaruga, nem pelo cachecol ou o blazer xadrez, talvez o mesmo de vinte anos atrás, mas por aquele que era o prefácio de seu próprio rosto: Duas caudas de marta sobre os lábios, milimétricamente aparadas e manuseadas para tornar seus dois lados idênticos, e em forma de S. A única lembrança que guardei da noite de estreia. Com ele, varria tecidos do caminho e manchavam relevos de carmim. Rosas desabrochavam prematuras e sucumbiam ao toque das cerdas atrevidas daquele sisudo pincel.
Sentado ao lado da mesa, em dias de prova, perna sobre perna, rodava o dedo pela ponta do “S”, como quem dá corda à preguiça.