Ambas são figuras em extinção, e isso para sermos gentis.
As fichas brasileiras eram tokens que só serviam para operar telefones públicos na época em que eram a única forma de fazer ligações quando não estávamos em casa. As fichas eram vendidas em bancas de jornais, que também estão em extinção.
Por sua vez, nós, venezuelanos, tínhamos uma moeda chamada “locha”, que valia muito pouco, mas que na minha memória de infância podiam ser trocadas por um “Toronto”, que vinha a ser um delicioso bombom de chocolate e avelã que ainda existe, embora eu não tenha ideia do seu preço atual.
Mas isso não vem ao caso. O que quero dizer é que tanto a ficha quanto a locha são protagonistas da mesma expressão: “me cayó la locha”, ou “caiu a ficha” que significam a mesma coisa, tipo: “agora entendi”, para o que há invariavelmente um gatilho que te leva a perceber algo que você tinha logo na tua frente, mas que não tinha visto até a ficha cair. Por exemplo, você conhece alguém com o sobrenome Pérez e outra pessoa com o mesmo sobrenome, e de repente você fica sabendo que são irmãos. Isso costuma ser comum em filmes de detetives, quando a certa altura você percebe de onde vêm os tiros, outra expressão que é usada com o mesmo significado.
Agora, não importa se o problema é leve ou grave, o cair da ficha ou da locha têm a particularidade de ser irreversível. Depois que elas caem, não há mais nada a conversar.
Ambas, ficha e locha, saíram de circulação há muito tempo, mas, por mais estranho que pareça, são expressões que as novas gerações herdaram e usam sem saber a origem das palavras.
Se tiver oportunidade, diga-me se há algo semelhante em outros países e se aconteceu algo com você ultimamente que justifique a expressão.