Quando a vida me levava perto do bom e caro hospital alemão, mesmo por Cabala eu entrava para comer o fabuloso bolo de nozes em sua lanchonete. Mas, em geral, acho que poucos vão aos hospitais por motivos melhores do que esse.
Pensando nisso, me lembrei da anedota de dois velhos amigos que quando crianças brincavam no bairro proletário do Brás, e que se encontraram por acaso no saguão do hospital alemão. Um perguntou ao outro por que ele estava ali, e ouviu seu velho amigo responder que sua sogra havia morrido.
O indiscreto não tem limites, e insistiu perguntando o que sua sogra tinha? E soube pelo amigo que ela tinha deixado um apartamento com um quarto e uma sala no Brás.
Ontem, assim que abri a porta para minha empregada, eu a vi toda de preto e de sem mais me disse que havia perdido sua mãe de 80 anos. Nem bem eu tinha terminado de dar-lhe as minhas condolências, quando também me disse que o marido dela tinha sido multado em 250 euros por conduzir enquanto falava ao telemóvel.
Quer dizer, essa boa senhora perdeu duas vezes. Tive de me conter para não lhe dizer que essa semana não valia a pena jogar na loteria.
Nenhum desses casos nos faria rir em público, excepto num velório, onde todos ficamos nervosos e o riso nos aliviaria, se não ficasse mal rir.
Mas é a incongruência o que nos diverte, mesmo quando o disfarcemos. Nos faz rir a incongruência entre a dor esperada da perda afectiva e a alusão inesperada à variação patrimonial. Assim como nos faz até contorcer em silencio a incongruência entre a tentação de rir e a proibição social de fazê-lo.
A incongruência é a teoria actual para explicar o humor. Mas, como todas as teorias sobre humor, esta também é enfadonha. O que referendaria a incongruência como a melhor teoria para explicar o humor.