Gente que Cuenta

Migrando para dentro, por Alfredo Behrens

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“… o que eu quero contar a vocês é a transformação que senti dentro de mim…”

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      Para algumas dezenas de crianças, contei a história de uma vaca que aprendeu a voar para alcançar pastos mais verdes. É uma história de superação, de heroísmo, de perseverança. E as crianças entenderam muito bem, desenharam a vaca voando e pousando.

Mas o que eu quero contar a vocês é a transformação que senti dentro de mim. Em minha vida profissional, geralmente falo para públicos adultos. São pessoas com mais de 30 anos de idade, que foram colocadas em uma sala para me ouvir, às vezes contra a vontade, e algumas delas escapam da melhor maneira possível, por exemplo, por meio de seus telefones celulares.

Teresa voa 2 Atril press 1Mas nessa reunião com as crianças, embora elas parecessem distraídas, conversando umas com as outras enquanto desenhavam, houve comunhão. Quando chegou a hora de me entregarem o que haviam desenhado sobre a história que ouviram, elas mostraram que a entenderam.

E além dessa comunhão, o que me impressionou, e digo a vocês, me emocionou, foi perceber a minha transformação. Ou seja, a história da vaca Teresa é uma história de migração. A vaca teve de deixar o lugar onde estava para chegar a um lugar melhor. É um livro que foi premiado na Califórnia, que é uma terra de imigrantes, e publicado em Portugal, uma terra de emigrantes, e onde foi até recomendado como leitura nas escolas públicas. Mas a verdadeira migração naquele dia, creio eu, foi minha própria migração interna. E vou lhe dizer porquê.

A experiência me levou de volta a uma época da minha vida em que eu também era inocente, curioso e buscava aprovação. Sim, ao ver tantas crianças diferentes, eu me senti como uma delas. E esse sentimento não é apenas bonito, mas acho que é extremamente importante para os tomadores de decisão.

Por que seria importante? Porque despertaria nos executivos a curiosidade que perderam? Porque despertaria a empatia que esqueceram?, Porque os despertaria para se reconhecerem no outro?

Em suma, não estamos na vida apenas para ganhar dinheiro, é preciso entender, ter empatia, ter curiosidade, ter desejo. E é isso que muitas pessoas perdem à medida que crescem, e é por isso que eu acho que seria bom que os tomadores de decisão dedicassem seu tempo para conversar com crianças, não apenas uma ou duas, não apenas com seus netos, mas com vinte ou trinta crianças de cada vez. Porque há diversidade nos grandes números. E a diversidade é importante para podermos entender os outros e, assim, nos conhecermos melhor.

Alfredo Behrens Atril press

Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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