Gente que Cuenta

O conteúdo sem conteúdo – Fabiana Louro

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Yuri Zlotnikov
Serie de señales (1956)

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Cresci, graças ao estímulo de meu pai e a formação artística de minha irmã (dez anos mais velha), assistindo filmes. A diversão era ir até a locadora, alugar pelo menos três filmes e assistir na sala em família. Após a finalização, discutíamos nossas impressões da obra. Senso crítico, senso estético, avaliação das interpretações, efeitos visuais, fotografia, trilha sonora, tudo era discutido. Depois comecei a fazer música, dança e teatro e todas essas questões eram o tempo todo discutidas, mas principalmente, qual o conteúdo da obra? Forma e conteúdo, uma dupla sempre presente nas reflexões. Era muito comum dizermos sobre alguém vazio e fútil: “essa pessoa não tem conteúdo”.

Os anos se passaram, as redes sociais surgiram e hoje em dia, literalmente, qualquer pessoa produz “conteúdo” na internet. Qualquer conteúdo. Antes se você precisava ter um fundamento/formação para realizar uma obra/produto, hoje você precisa apenas de: internet, celular e “cara de pau”. Não importa se você tem formação para falar sobre saúde mental, economia, relacionamentos, filosofia ou qualquer outro assunto, se souber entrar nas trends e chamar a atenção de um público, você pode ser considerado criador de conteúdo digital.

Fui pesquisar o significado da palavra conteúdo e significa: “O que está contido no interior de algo, ocupando parcial ou completamente seu espaço”. De fato, se formos por esse sentido, existe muito conteúdo na internet, muitos perfis ocupam o espaço digital. Agora no sentido figurado, conteúdo quer dizer: “significado que tem profundidade, substância”. Partindo desse sentido, já entendemos que estamos carentes de conteúdo.

A lógica dos algoritmos está deixando tudo tão literal, que não importa a relevância do conteúdo, o que importa é marcar presença no digital, seguir o fluxo e fazer o que todo mundo está fazendo. Cópias e mais cópias, vídeos de 15 segundos, humor, danças e dublagens repetitivas, a ordem agora é, ser relevante dentro da mesmice. Realmente, a crise, é estética.

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É atriz, educadora, dançarina e cantora. Atualmente cursa mestrado em educação na UFPE, é diretora e atriz do Grupo Fuga de teatro e realiza narração de audiodescrição de livros e materiais didáticos
fabislouro@gmail.com

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