“Mas, quando você acha que um casamento não vale mais a pena? Disparou o paciente ao seu terapeuta.
Convenhamos que não é uma pergunta fácil, mesmo para os que tenhamos incorrido em diversas falências do gênero. Nem deve ser fácil para um psicanalista, mesmo assim ele teve a coragem de responder: estaria próximo da falência um casal no qual os parceiros se recusam a dar sustentação, a ampliar os limites dos sonhos do outro.
Tempos faz que li Epifanía, uma poesia de Ted Hughes refletindo sobre a falência do casamento que ainda mantinha com Silvia Plath. Em Epifainía, Hughes se dirigia apressado ao Metro londrino que o levaria para a casa do casal ao entardecer. Instantes antes de descer para o Metro percebeu um olhar inusitado; efetivamente, era o olhar de um bebê de raposa nos braços de uma pessoa que o venderia por uma libra.
Mesmo para um poeta uma libra não seria muita coisa; de maneira que se abria a porta do desafio: Hughes poderia chegar em casa com um bebé de raposa, lindo, e que precisava de ajuda. Hughes sentiu-se tentado. Mas Hughes chegaria em casa com a promessa de uma raposa, com seu cheiro, com seu pelo, com sua vida noturna, com sua ânsia de liberdade. Não seria um marido-com-raposa demais para uma esposa?
Hughes desistiu e tomou o Metro sem o bebê de raposa, sentindo que abandonava o bebê ao destino incerto de uma raposa em Londres. Pior, Hughes sentiu que ao mergulhar no Metro, como “escapando da sua própria vida” para se salvar de não salvar a raposa, na verdade temia confrontar a sua mulher com seu sonho.