Entre arte e tecnologia está a pessoa, que pode ficar mais de um lado que do outro. Observe que na terra de Michelangelo existem oficinas de artesãos que usam robôs para esculpir Pietàs de qualquer tamanho, inclusive em mármore de Carrara.
Juan é o meu caso de artista engaiolado pelo mercado. Desde menino Juan queria ser pintor e para comer pintava paredes. Mas acabou embrulhado nos papeis de parede e passou a vender quadros na feira de domingo. Ele pintou de tudo e comia melhor. Mas o que ele mais vendia eram pinturas de papagaios na selva. Eram bonitas, bem coloridas. Acontece que alguém colocou Juan nos guias turísticos e ele virou celebrity.
Acontece que alguém colocou Juan nos guias turísticos e virou celebrity.
Pelo menos entre os turistas que visitavam o Rio de Janeiro e que não podiam provar que estiveram na cidade sem voltar com um de seus papagaios; como antes voltavam com bandejas de borboletas.
No início os turistas eram poucos e Juan achava graça neles. Mas, os turistas passaram a chegar de navios, quando apareciam às dúzias no seu estande na feira. Para não morrer sob as bicadas dos turistas, Juan passou a pintar papagaios com um olho na tela e o outro no calendário de chegada dos navios. Os papagaios o estavam comendo. Foi assim que Juan incorporou uma poderosa impressora para imprimir um fundo selvático nas telas. Algumas pinceladas grossas nas telas impressas pelo computador davam a textura que a impressora não alcançava. Na selva digital Juan agora pintava seus papagaios, a granel, como quem derrama cimento em uma fôrma, ou como um robô esculpe em mármore uma Pietà para a mesinha de cabeceira, quem sabe com quadro de papagaios na selva pendurada sobre a cabeça da cama.
Alfredo Behrens es PhD por la University of Cambridge, es profesor de Liderazgo para las escuelas de negocios FIA, en São Paulo e IME en Salamanca, y es Presidente del Consejo de Estratégia de la Universidade Fernando Pessoa, en Oporto, donde reside. Algunos de sus libros pueden ser comprados a través de Amazon.