Gente que Cuenta

Tempos modernos, por Alfredo Behrens

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Grosz, Hombre con mujer semidesnuda en un café, 1922

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José foi uma vítima da modernidade. Sofria de solidão e houve um tempo simples em que telefonava a uma jovem Estefânia que o deixava exausto na cama. O preço era razoável e ela não o incomodava entre os actos. Sempre que ele a chamava, Estefânia podia vir. Mas acontece que ela e umas amigas formaram uma cooperativa e quando José ligava para o mesmo número, qualquer mulher vinha.

José fez as contas e acabou por encontrar no Tinder uma mulher na casa dos cinquenta anos, com um sorriso diáfano de dentes brancos e alinhados. Chamava-se Maria e com ela estabeleceu uma relação satisfatória, inclusive porque Maria também cuidava da casa.

Tudo corria mais ou menos bem até que Maria começou a receber e-mails com a gramática de vigaristas que lhe exigiam o pagamento de prestações mensais, porque se parasse, ela perderia os dentes que lhe tinham sido implantados numa clínica meia boca. Desesperada, Maria guardou secretamente uns trocos das compras na mercearia e enviava o que podia para os vigaristas, mas era pouco e os dentes foram-se soltando.

Maria desesperou quando o seu sorriso se transformou numa careta ao perder o primeiro dente. Choraram juntos quando ela contou a José, e ele tirou um dinheirinho da sua pensão para que Maria pudesse retomar os pagamentos e recuperar os dentes. E foi assim que Maria e José viveram mais ou menos felizes até que José morreu e Maria, já sem pensão, perdeu os dentes um a um.

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Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona estratégia e assuntos interculturais para a escola de negócios FIA em São Paulo y para Harvard Business Education.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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