Em meados do século 18, o delegado Lacerda jogou o jovem cientistas Edward numa fossa, acusado de espionar na Amazônia para os britânicos. Na fossa estava Jean, também cientista e acusado de espionar, desta vez para os franceses.
“O que o delegado Lacerda tem contra você?”, perguntou Jean ao Edward se recuperar no chão da cela onde foi jogado.
“Lacerda exigiu que eu abaixasse a Union Jack na minha escuna.”
“Naturelment.”
“Tenho o direito de navegar sob a minha bandeira!”
“Não, se você não tiver dinheiro”, disse Jean.
“O que você quer dizer com isso? Eu sou um cientista!”
“Eu também, mas a verdade é uma virtude, e as virtudes não têm preço onde o mercado reina.”
“As virtudes têm valor em qualquer lugar!”, disse Edward, atónito.
“Aqui também, exceto que aqui o dinheiro pode comprá-las. Lacerda, o cão, pediu dinheiro a você?
“Acho que foi assim que aconteceu.”
“Achas?”
“É que eu falava com o delegado pelo meu intérprete, Smallpage, que não fala português direito.”
“Você não confia no Smallpage?”
“Confio nele mais do que no seu domínio do idioma local.”
“Então você não sabia de quem vinha a demanda por dinheiro, se do Lacerda ou do Smallpage?
“Foi assim que aconteceu.”
“E você não pagou; é por isso que você está aqui.”
“Mas como eu poderia pagar por um direito que é meu, o de navegar sob minha bandeira?”
“Aqui, esses direitos são comprados.”
“Eu me recuso a pagar pelo que é meu.”
“Eu gosto disso.”
“Do que você gosta?
“Que você tem princípios. Isso significa que você vai passar um bom tempo me fazendo companhia.”
Estava escurecendo e a floresta tropical ganha vida com diferentes sons a esta hora do dia. A chuva martelava no telhado da fossa, enquanto ao fundo as cigarras e os pássaros davam lugar ao som de sapos, morcegos e corujas. Macacos bugios invadiram mais tarde. No entanto, apesar do barulho, os ruídos eram reconfortantemente não humanos e, dadas as circunstâncias, menos ameaçadores. Edward e Jean logo cairiam no sono.