Às quatro da manhã saí para a rua, congelada e escura, em busca do caminho que leva à emissora de televisão onde fui contratado.
Estava chovendo e foi a primeira vez que me aventurei naquela estrada desconhecida salpicada de arranha-céus quase imperceptíveis naquela hora.
Fazia uma semana que cheguei a Atlanta e aluguei um apartamento no décimo andar de um prédio, no centro da cidade, onde mora a maioria das famílias negras de classe média.
Aqui os brancos preferem viver na periferia da cidade, onde abundam as urbanizações de casas idênticas, escolas, centros comerciais e outros serviços. É por isto que o centro da cidade fica para as sedes de grandes empresas, hotéis, turistas, museus, estádios, pessoas de cor e moradores de rua.
Mas eu, ao contrário do que estava estabelecido, decidi ficar no centro porque assim poderia ir a pé para o trabalho, evitar gastar num carro mais o custo da gasolina, e enfim porque era “mais interessante” e teria uma boa “dose cor local ”.
Mas o que não entrou nos meus cálculos foi a atribuição do horário de trabalho que me foi dada, das quatro da manhã ao meio-dia. Foi assim que, sob um toró inclemente e no meio da escuridão, comecei a aventura de conviver com os negros de Atlanta, mais conhecidos como a “meca negra”.
Tinha desembarcado em um dos estados mais recalcitrantes da união, a Geórgia, o mesmo que foi queimado pelos ianques até a última tábua durante a Guerra Civil por se recusar a aceitar a derrota, e com ela o fim da escravidão.
O mesmo que um século depois aceitaria, com relutância, o direito de votar nos negros.
Foi assim que, sob um toró inclemente e no meio da escuridão, comecei a aventura de conviver com o povo negro de Atlanta, mais conhecido como a “Meca Negra”.
Roberto Giusti nasceu em Rubio, Venezuela, formou-se na Universidade Católica Andrés Bello de Caracas e tem três prêmios nacionais de jornalismo em seu currículo. Na década de 1990, ele cobriu o colapso do império soviético para a imprensa venezuelana. Já publicou doze livros.