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Nicolas não quis – Alfredo Behrens

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Nicolas era um bom sujeito, apesar de ser policial. Ele frequentava um bar onde jogava bilhar e bebia com os amigos.  Também é verdade que as vezes ele bebia demais, mas era rara a vez que ele ficava violento, embora teve uma vez que ele deu uns socos em alguns dos presentes. Aquilo foi difícil, mas não passou disso, e foi uma vez só.

Mas a Maria não gostava de como Nicolas chegava em casa trôpego, às vezes gritando, outras insultando. Não eram muitas, é verdade, mas era muito desagradável. Mas da última vez Nicolas chegou muito agressivo e chegou a dar socos na Maria.  Socos muito fortes; ela caiu e quando se levantou insultando-o, sangrava do lábio.  Talvez tenha sido ao ver o sangue, mas o fato é que Nicolas apontou o revólver regulamentário para ela e a arma disparou. Maria morreu na hora.

Até hoje Nicholas jura que não quis matá-la; que, por Deus, não sabe o que aconteceu com ele.

Mais ou menos foi assim que o advogado da sua defesa argumentou no juízo.  Sendo o crime da Maria um contra a vida, a sentença dependia de um júri popular. Eu estagiava no fórum e estava aí quando o advogado olhando para o júri perguntou: “Vocês acham que Nicolás seria capaz de matar?” “Tanto que a matou,” arrematou o fiscal.

O advogado da defesa não era dos mais imaginativos. Nicolás parecia lascado.  Foi nesse momento, quando, quase como um náufrago quando pega num lenho que ainda flutua no oceano, que o advogado da defesa voltou à carga: “Nicolás apontou o revólver sim, e após uma pausa, completou: “Mas não foi o Nicolás quem apertou o gatilho. “Mas, então quem foi?” perguntou o promotor. “Quem puxou do gatilho foi o Sol!” respondeu o advogado; ao que o promotor rindo debochadamente disse que isso era impossível, porque nesse dia nem praia deu! O júri caiu na gargalhada.

Mas, olhando messianicamente para o júri, o advogado continuou dizendo que por algum lugar tinha lido num artigo de um PhD por Cambridge, que os distúrbios geomagnéticos provocados pelo Sol, haja nuvens ou não, induzem as pessoas a matar.

Até o juiz ficou perplexo.  O promotor debochadamente comentou que essa sim ele nunca tinha ouvido, muito menos em juízo, e acrescentou: “Vossa senhoria, por favor respeite pelo menos o júri.  Mas, a questão é o Nicolás safou-se dessa e ao sair prometeu ao advogado “uma cachaça da melhor!” E olhando para o teto, e outra também para o tal do PhD.

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Alfredo Behrens é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona Liderança para as escolas de negócios da FIA em São Paulo e IME em Salamanca, e é Presidente do Conselho Estratégico da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde reside.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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