Lembro-me claramente do ursinho de pelúcia que sempre tinha comigo quando era pequeno. Eu não era a única criança que tinha um, e nossa gentil professora colocava todos eles em uma prateleira. Eu me sentia confortado ao ver meu ursinho e saber que ele estava lá, como um pequeno guardião da minha paz de espírito.
Por fim, entendi que esse ursinho era meu companheiro de transição, algo que muitas crianças têm até começarem a se tornar um pouco independentes de seus pais. Agora, tudo o que resta são as fotos da minha infância com aquele ursinho de pelúcia amado. Será que substituímos esses objetos de transição por outros menos óbvios?
Hoje, nossos pontos de referência não são os ursinhos de pelúcia, mas grupos de pessoas ao nosso redor com os quais nos comparamos e nos orientamos, inclusive em termos de padrões, aparência e comportamento. Esses grupos de referência nos ajudam a entender nosso lugar no mundo ao nosso redor, dando-nos uma sensação de pertencimento e estabilidade. Sem esses grupos de referência, podemos nos sentir náufragos, perdidos e desorientados.
Mas o que acontece com aqueles que migram? Ao se apegarem a seus antigos grupos de referência, eles têm dificuldade de se adaptar à nova sociedade. Esse processo de reintegração geralmente é acompanhado por um sentimento de alienação da sociedade de origem, o que pode causar distúrbios comportamentais.
Pessoalmente, morei em seis sociedades diferentes e trabalhei em muitas outras. Como um migrante em série, posso garantir que não foi um caminho fácil. Às vezes me pergunto se não teria sido mais fácil ficar com meu ursinho de pelúcia.