Estavas bem na fotografia, dizias. Ao longe, um fumo de nuvem voou e tu sorrias para a vida como um peixe através de um recipiente de vidro baço, sonhando diluir-se em algum recanto do mar. Onde era não sei, quando foi pouco importa. Estavas bem na fotografia, dizias. E nem a palidez das cores nem a indesejada réstia de sol que nesse preciso momento te obrigou a franzir os olhos conseguiam desviar a atenção do ponto fulcral, a pequena luz do teu sorriso. O cabelo solto dava-te um ar rebelde, dizias, serpenteando melodias entre as palavras, imaginando a rebeldia que nunca ousaste, talvez por receares confrontar os sonhos, esses rebeldes predadores, e junto dos conformados que felizes espreitam a luz baça dos dias, como se ela fosse o único reflexo dourado, agradecem a dádiva que Saturno nos concede. Estavas bem na fotografia, dizias com um nó górdio na garganta, reconhecendo que nunca serás o que julgaste poder vir a ser. E, no entanto, na palidez das cores e quase imperceptível a pequena luz do teu sorriso ainda sorria.