Há alguns anos, eu tinha um amigo que estava morrendo. Todos nós vamos morrer. Mas ele estava morrendo mais rápido. Eu o visitava com frequência. Mas sempre o via sozinho. Fumando demais. Como se quisesse apressar sua morte. Embora sozinho, ele tinha sido um homem, extremamente viril, interessante, animado. Cheio de amigos. Amante da vida e das mulheres. Embora, naquele momento, ele estivesse morrendo sozinho.
Minha amizade com esse homem moribundo foi o resultado de um caso de amor furtivo que tive com uma mulher. Como era furtivo, eu não conhecia os amigos do meu amigo, nem os dela. Eu só tinha passado algum tempo com ele em algumas escapadas que minha amiga casada fazia com outras amigas casadas que precisavam de algum tipo de subterfúgio, como “vou sair com fulana de tal”…
Como ele tinha sido um homem muito desejado e festeiro, era difícil para ele chamar velhos amigos para acompanhá-lo quando a vida não era mais divertida para ele. Ele simplesmente se deixava morrer. Em uma dessas visitas, com a desculpa de ir aà casa de banho. Fui até sua mesa de trabalho para ver se encontrava algum sinal de amigos que eu pudesse chamar para alertá-los sobre sua solidão terminal. E assim encontrei, pendurada em uma prateleira, uma lista alfabética de nomes e números de telefone. Parecia ser de uma lista de amigos íntimos, pois entre eles também estava o nome de sua filha. Tirei uma foto da lista e, quando voltei para casa, comecei a ligar para eles a fim de alertá-los sobre a situação de nosso amigo em comum, para que pudessem visitá-lo, pois ele precisava.
Quando liguei para o primeiro da lista, o Celso, ao atender, perguntei se era o Celso. Ele respondeu que era o que restava dele. Nós dois rimos e eu lhe disse por que estava ligando para ele. Celso me pediu desculpas por não ter visitado seu amigo mais cedo, agradeceu-me por tê-lo chamado e disse que iria visitá-lo imediatamente. Liguei para outras pessoas e ouvi mais pedidos de desculpas, mas eles continuaram pingando à casa do meu amigo. Assim, foi na casa do meu amigo que estava morrendo que acabei conhecendo e fazendo amizade com alguns de seus muitos amigos. Ou, pelo menos, com os amigos mais generosos que decidiram visitá-lo para lhe fazer companhia antes que ele se fosse completamente.