“Dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.”
“Capitu, apesar daqueles olhos que o diabo lhe deu… Você já reparou nos olhos dela? São assim de cigana oblíqua e dissimulada. Pois apesar deles, poderia passar, se não fosse a vaidade e a adulação. Oh! , a adulação “
Em “Dom Casmurro”, de Machado de Assis.
Duas citações dos famosos olhos de Capitu. Das janelas da personalidade de uma mulher que ainda causam mistério, dúvida e fascinação
Até hoje pergunta-se o que seriam os tais olhos de ressaca. Acredito que nem Machado de Assis saberia definir, com o seu “vá, de ressaca” peremptório.
E me pego a imaginar se poderíamos devendá-lo. Afinal, hoje estamos dando maior atenção aos olhos do que ao rosto.
As máscaras pandêmicas destacam os olhos. Como detalhes de uma pintura. Ah … os detalhes …. e nos perdemos nos detalhes.
Detalhes de uma pintura as vezes são mais interessantes que a obra na sua totalidade.
Nos detalhes podemos encontrar respostas e beleza.
Procuramos dar mais atenção à pessoa, pois só temos os olhos para ler, compreender,
confirmar. A boca encoberta, a voz meio abafada de pouco ajudam. Não estamos habituados …
De certo modo, mudam nossas relações interpessoais. Quando levamos aquela conversa sincera, quando queremos nos expor de peito aberto, olhamos e falamos diretamente aos olhos. Requer coragem, franqueza, sinceridade.
Hoje, entramos diretamente nos olhos de pessoas que não fazem parte de nossas relações. É contato direto.
Os olhos são as janelas da alma …