
Ilya Repin, 1899
Os primeiros colonizadores do Uruguai eram espanhóis e dentro de suas bagagens e baús, vinham suas tradições e costumes. E em seus espíritos enérgicos e guerreiros, um forte conceito da honra. As sementes da aristocracia “criolla” foram plantadas.
Uma forma de elucidar litígios, principalmente no ambiente rural, era o duelo de faca ou facão, com o poncho enrolado no outro braço como escudo, o chamado “duelo criollo“. Desavenças, ressentimentos ou até troca de olhares “pesados”, situações também motivadas pelo excesso de álcool, bastavam para o entrevero que geralmente terminava com a morte de um dos antagonistas. Esses duelos rurais eram comuns, porém não eram legalmente aceitos pelas autoridades.
Já no século XIX, o desafio de duelar por possíveis agravos, seja com arma de fogo ou branca, com regras pré-estabelecidas, passou a fazer parte do cotidiano das cidades, com o crescimento das mesmas. As regras determinavam antecipadamente os padrinhos de cada adversário, médico, o tipo de arma, em alguns casos eram assinadas atas e obviamente o local mantido em segredo das autoridades para não conhecer o fato e proibi-lo. Essa tradição ainda se mantém no século 20, quando em 2 de abril de 1920, por conta de denúncias mútuas em jornais rivais, o ex-presidente José Batlle y Ordóñez matou com pistola seu rival, o jornalista Washington Beltrán. Nesse mesmo ano, o governo promulgou a “Ley de Duelos”, regulamentando os métodos dentro de um marco legal, evitando possíveis infrações penais. Os duelos entre políticos e militares tornaram-se bastante comuns até a década de 1980, embora não com morte e sim “com sangue a vista”, como se costumava dizer, mesmo que alguns possam ter ficado gravemente feridos.
Em 1992, durante o governo do presidente Luis Lacalle Herrera, a Lei do Duelo foi finalmente revogada, ficando o Judiciário responsável “por defender a honra do indivíduo, arbitrariamente vilipendiado e reparado …” Ainda hoje no Uruguai, essa lei de duelos mantém fervorosos defensores em restaurá-la.

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