
Nos países mais criativos em publicidade há mais prêmios Nobel.
Toda sociedade tem mecanismos para alocar seus talentos. Umas sociedades privilegiam a criatividade, outras menos. As que depreciam a criatividade eventualmente deixam de inovar, porque ao remunerar mal seus criativos, desencorajam o investimento nas atividades que os empregariam.
As atividades criativas podem ser individuais como a poesia, ou coletivas como a publicidade. As criativas individuais florescem como as flores maria-sem-vergonha, dão em qualquer lugar. Para elas bastam terra, sol e água. Dai que o Chile e Portugal, ambos produtores de bons vinhos, tenham prêmios Nobel em Literatura, embora tanto o Chile quanto Portugal apareçam próximos do final do ranking em criatividade publicitária para 2021.
Tanto no Chile quanto em Portugal floresceriam mais poetas e menos publicitários? Ou é que a publicidade deles é capenga porque desaproveita seus poetas? Nada é tão simples assim, particularmente ao se tratar de arte. Por isso vale a pena refletir sobre isto.
Entre as formas de arte contemporâneo, a publicidade é uma das mais complexas e interessantes. A mensagem publicitária deve ser sucinta, como na poesia. Como na poesia, também a publicidade combina palavras com imagens e música para evocar desejos. Também como na poesia, a publicidade se vale de símiles, metáforas e de símbolos.
Se há tanto em comum entre a poesia e a publicidade, porque nalgumas sociedades a poesia alcança um reconhecimento internacional tanto maior do que a sua publicidade?
Vale a pena entender isso, porque na razão desse descompasso entre a poesia e a publicidade, poderíamos encontrar a razão da falta de inovação em algumas sociedades. E vale entendemos isso rapidamente, antes de que apareça mais um bruto sugerindo que não vale gastar tanto em ensinar a escrever.

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