Gente que Cuenta

Pó de tempestades,
por Alfredo Behrens

Claude Monet Atril press
Claude Monet,
Estación de San Lázaro, 1877

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      Faz uns poucos dias tive ocasião de refletir sobre como me tornei quem eu sou hoje. Ainda não sei ao certo, mas sei que não foi fácil, ou que pelo menos não foi linear.

Há uns anos encontrei-me com antigos colegas da escola. O que me surpreendeu é que poderia ter jurado que tinham se transformado em versões infladas dos colegas que eu conheci na escola. Basicamente eram iguais. Ou seja, pouco tinham mudado. Inclusive insistiam em me chamar pelo meu apelido daquela época. Só que eu tinha vivido em muitos países desde então e aquele apodo ficou no primeiro deles, como a pele de uma cobra ao crescer. Esquisito, senti que precisaríamos de um nome diferente para cada etapa das nossas vidas.

No colegial eu expressava algumas aptidões para liderança, o que amadureci ao entrar na universidade. Só que antes de terminar emigrei para um país onde tudo era novo e eu custava a entender o que as pessoas esperavam de mim. Tal vez foi por isso que foquei nos estudos, ganhei prémios e fui convidado a fazer o doutoramento numa prestigiosa universidade na Inglaterra. Novamente me defrontei ali com dificuldades de adaptação semelhantes. Sai airoso mas também curioso sobre como e porque alguns mudam tanto. Ao ponto que lembro com gosto da conversa com o chefe de admissões de outra prestigiosa universidade. Ele confessava que buscavam alunos com um potencial que a universidade pudesse desenvolver ao máximo, mas que era muito difícil prever no que cada um poderia se transformar.

Imagino que nascemos com um potencial é o entorno que te molda. Um pouco como aquele Juan Dahlmann, do Borges, que acaba numa pulperia de um povoado ao qual chegou por engano e na pulperia é provocado a um duelo a faca sem que soubesse como usá-la contra uma pessoa. Se o comboio não o tivesse deixado inesperadamente nesse povoado, Juan teria vivido mais alguns anos? ¿Quantos mais? ¿Como?

Alfredo Behrens Atril press

Alfredo Behrens alcançou o grau de Ph.D. pela Universidade de Cambridge. Ele ensinou Liderança nas melhores escolas de gestão e foi publicado ou premiado por Harvard, Princeton e Stanford. Alfredo tem quatro filhas e, com a sua mulher Luli Delgado, mora no Porto, Portugal, desde 2018. Alguns dos seus livros podem ser adquiridos através da Amazon.
alfredobehrens@gmail.com

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