A propósito do Carnaval, há um par de anos que gostei de ver uma máscara de Carnaval veneziano feita pela artista portuguesa Joana Vasconcelos. A máscara teria uns quatro metros de comprimento por uns dois metros de altura.
A máscara da Joana era composta por dezenas de pequenos espelhos fixados para seguir a forma da máscara. Como esta tinha a forma ondulada das máscaras venezianas, e os espelho eram planos, eles acompanhavam algo mal a forma da máscara, e por isso refletiam imagens não apenas truncadas, mas também em ângulos diferentes.
Ainda, a máscara tinha espelhos dos dois lados. Na frente, ou seja, de quem olhava para a máscara, e no verso, como seria no caso de quem com ela cobrisse a sua cara.
Tal vez o mais curioso fosse o efeito que a máscara tinha sobre os visitantes, porque se bem o propósito de uma máscara seja o de interferir na percepção do que o outro faz da gente, também a gente acabava se confrontando com dezenas de imagens de si próprio ao tentar ver através dela. Em suma, a máscara da Joana levantava a seguinte questão: a quem tentaríamos enganar ao nos escondermos detrás de uma máscara?
Eu venho do Uruguai, onde também durante o Carnaval as pessoas se emascaram, nem sei com que propósito, mas avento um: no Uruguai, quando alguém é logrado se diz que “viram a cara dele”. Ou seja, os sem vergonhas teriam visto nessa pessoa a cara de alguém de quem poderia se tirar proveito. Em suma, o ditado sugere que os uruguaios fariam bem ao andar pela vida escondendo a cara para não perderem na roda da vida. Apenas no Carnaval, escondidos detrás de máscaras, os uruguaios poderiam olhar para os outros de frente sem perderem. Isto se não estivessem usando uma máscara como a da Joana. Porque se usassem uma dessas, veriam a sua própria imagem, correndo o risco de tirarem vantagem de si próprios.