
Sunday
1926
Juan dirigiu para casa em silêncio enquanto sua esposa suspirava. A vizinha do Mário a pegou. No velório, ela a reconheceu como uma frequentadora solitária do apartamento de Mário, e, intuindo que ela seria sua amante, teve a audácia de lhe apresentar suas condolências.
Juan estava em um beco sem saída. Sua vida social estaria acabada se sua esposa caísse na fofoca. Ele não se importava mais se ela tinha ou não um álibi.
Quando chegou em casa, ela foi dormir enquanto Juan ficava no sofá. Ele se serviu de uma boa dose de uísque e ficou pensando no agora. O que seria? A careta de Mário o acompanhava para onde quer que olhasse, mesmo com os olhos fechados. Juan sentia falta dele, afinal, Mário fora seu melhor amigo.
Se ainda pudesse se aconselhar com ele, o que Mário diria? Certamente ele culparia o Juan. Mário era narcisista, era o seu apelo. Ele tinha uma força odisseica, não havia limites que ele não se propôs a superar. É por isso que ele o traiu. Mário ter-se-ia justificado e Juan não teria mais a fazer do que amargar a sua solidão, como agora. Juan concluiu que, apesar de tudo, Mário mereceu o fim que teve.
E o que ela diria se pudesse se confessar com ela? Talvez algo parecido com o que ele ouviria de Mário: que ela se entregou ao Mário porque se cansou de ser sua esposa. O tédio minou o amor. Culpa dele por ter tornado um marido insípido. Pior, já que ela não o amava mais, ao estrangular ao Mário, ele drenou a vida dela. Ela denunciaria Juan à polícia se ele confessasse com ela.
Juan havia perdido tudo, sua esposa já pertencia a outro, que havia sido seu melhor amigo e que não poderia mais decepcioná-la. Juan era a própria fraude, a menos que tomasse uma atitude, era o que estava a fazer enquanto olhava para o fundo do copo vazio.

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