Gente que Cuenta

A Arte liberta – Alfredo Behrens

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Samuel Morse
Galería del Louvre
(1833)

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É pobre o povo cujos temas de conversa mal saem do sexo e do futebol. Mudar isso na escala nacional demora muito tempo. Mas, no seu próprio entorno algo pode ser feito. Pode ser feito nos lugares de trabalho. Que tal reservar um espaço para promover o enriquecimento coletivo? Pode ser uma pequena biblioteca para emprestar livros aos colegas. Em torno dela poderia ser organizar pequenos encontros para discutir um livro. Do que precisaria? Dependerá do número de pessoas no seu trabalho. Mas, pode-se começar com uma sala de 5 metros quadrados, e 50 a cem livros nas estantes. Só livros? Precisa de lugar físico, hoje com tanto grátis na internet?

Sim, na internet há muita coisa boa de graça. Mas, vai ver que precisarias de ajuda, não muita, para encontrar o material e disponibilizá-lo.

Porém, uma vez encontrado o material, que pode ser de livros, músicas, ballets, teatros, pinturas e esculturas, você vai precisar de uma orientação para apreciar tanta coisa. É por aí onde o bicho pega. Essa formação é cara. São poucos os que a possuem, e menos ainda os que estão dispostos a compartilhar ela explicando. É até uma coisa de classe. Os detentores do conhecimento artístico, pareceriam buscar defender seu património cultural excluindo aos outros. Não estou falando apenas dos proibitivos preços dos quadros adquiridos em leilões. Estou falando também do linguajar hermético preferido pelos curadores de exposições.

O que fazer? Sem fazer algo não dará para inovar muito, sequer dará para entender melhor os outros numa reunião de trabalho. Será que maior familiaridade com as artes poderia nos tirar do marasmo?

A arte, mesmo sem ser “grande”, é o pano de fundo das nossas vidas. Desde a sua fase rupestre a arte nos insere no nosso tempo. O artista seleciona o que importa e com isso a arte dele se torna o nosso espelho, nos sugerindo a vida que vale a pena ser vivida.

Será que uma maior familiaridade com a arte liberaria uma população. Acredito que sim, e acredito também que propiciar o compartilhamento do esforço de interpretar arte seja um bom primeiro passo.

Por que?

Porque a diversidade que há na arte propicia a troca de pontos de vista, cada um fruto da sua herança. Ao confrontar os pontos de vista a pessoa aprende não apenas sobre arte, mas também aprende a entender melhor o outro, a ser mais receptivo aos estilos, e às raízes dos gostos; além de nos ajudar a forjar pessoas mais completas porque mais refinadas. Até tal vez votem em políticos menos brutos.

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Alfredo Behrens  é doutor pela Universidade de Cambridge, leciona Liderança para as escolas de negócios da FIA em São Paulo e IME em Salamanca, e é Presidente do Conselho Estratégico da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, onde reside.
Alguns de seus livros podem ser adquiridos na Amazon.
ab@alfredobehrens.com

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