Na praia de Ipanema, passeava uma universitária de quem eu gostava. Eu disse a ela o que pensei ser um elogio e ela retribuiu com uma rejeição irreconciliável: me disse para não ser tão uruguaio! Mas eu era um novato no Brasil, uruguaio era a única coisa que sabia ser, e achava que o fazia direitinho. Foi difícil, ainda mais porque eu estava muito sozinho.
O tempo passou e eu avistei na biblioteca da faculdade outra garota de quem eu gostava, e que achava que me aceitaria melhor. Ainda inseguro quanto à minha estratégia de aproximação, não fosse que ia achar a minha mão boba, no bar da faculdade pedi-lhe se podia acariciá-la. Acontece que ele disse sim e fizemos mais do que carícias ao longo de várias décadas, com amor e ódio, aos dois lados do Oceano Atlântico, ao Norte e ao Sul. Até que ela foi embora.
Ela era muito neurótica, embora tal vez não mais do que eu. Ela falava com o melhor português que eu já tinha ouvido. Eu queria por sempre ter ouvido ela, mas ela era frágil como um broto de primavera. Um dia, após muitos livros lidos e escritos, ela já vovó, conversamos com velha intimidade sobre netos. Mas talvez cansada das grosserias com as que temos que conviver, ela deve ter desejado voar, e se tivesse voado seu voo teria sido doce, incerto e leve como o de uma borboleta, mas ela não se sustentou no ar, nem seu corpo ao tocar o chão.