
Pueblo carbonero en Pennsylvania
1947
Ao mergulhar em algumas pinturas de Edward Hopper, garrei-me a pensar na solidão. Ao ver pessoas solitárias sob a luz do sol, senti o quanto a solidão pode ser – parodiando o título de uma música dos Beatles – uma arma quente.
Ela não tem de ter fria, distante ou angustiante.
Gosto da solidão. Gosto de poder, em alguns instantes de minha vida, rejeitar a presença ser humano. De deixar de ser um indivíduo social. De ter a doce ilusão de não pertencer a um rebanho.
Aprecio os momentos da solidão em que sinto minha dor sozinho. Que encaro meus tormentos e minhas alegrias. Meus fracassos. Meus prazeres. Aprecio ouvir a ausência de uma voz. De não ter de me justificar.
A solidão me permite ouvir o ruído de meu corpo. O silêncio do meu cérebro. O ruído do mundo
Aprecio não ter de fotografar meus bons momentos, meu prato de alimento, como se fosse um triunfo ter de come-lo.
A solidão não obriga a divulgar aos quatro ventos, o que faço. O que leio. O que penso. Aonde vou. O que fiz. Ou o que farei.
A solidão me permite ouvir o ruído de meu corpo. O silêncio do meu cérebro. O ruído do mundo. Os tormentos que me angustiam.
A solidão me permite observar. Analisar. Avaliar.
A solidão de se sentir vencedor ou derrotado, sábio ou ignorante.
Solidão tem liberdade. Tem desapego. Tem fuga. Tem autoconhecimento.
Na solidão não existem deuses. Na solidão somos os únicos responsáveis. Criadores e criaturas.
Na solidão existimos em total e solitária plenitude. Plenos e unicos … livres. Por momentos.

ricardomarts@yahoo.com.br