Do hotel, na esquina da Avenida Princesa Isabel, vou falar pouco, mas do décimo andar, por uma janela que nunca se abre, Copacabana inteira se vê daqui.
A calçada é uma pintura em preto e branco, o desenho clássico das ondas com grafismos geométricos das ilhas ganha a força de uma mega instalação. Mas tanta simetria desbaratina com o alinhamento irreverente da arrebentação que faz o mar desbotar em amazonitas e esmeraldas. Todos os guarda-sóis são vermelhos. Ultraleves coloridos voam pra lá e pra cá ameaçando se estatelar na montanha – só pra fazer a gente perder o fôlego… Num instante fazem a volta e sobrevoam a cidade com intimidade de vizinhos.
Da rua não é diferente. À noite, luzes coloridas passeiam sobre os edifícios, música popular brasileira ressoa nos alto falantes e nos muitos palcos, irmãos de assembleia evocam o salvador, brancas baianas (cariocas) rodam as saias, fazem fogo para os orixás, jogam palmas e rosas para Iemanjá.
Não me pergunte o que foi feito dos mendigos. Foram aspirados da orla junto com a sujeira. Tudo está incrivelmente limpo, lindo e seguro.
Os preparativos aparecem por todo lado – toldos novos nos restaurantes vão sendo finalizados e os velhos, lavados. A água amarela lava e doura o mosaico português. Microfones vão sendo ajustados, lixos vão sendo recolhidos… Já não há mais automóveis. O cheiro da festa está no ar como um bolo assando no forno.
Balsas com os fogos se alinham e lá atrás, navios com guirlandas de luzes estacionam no mar.
Amanhã vou te contar que os fogos foram incríveis nos 1os três minutos. Depois foi uma sequência de ohhhs, uhhhs e uaaaaus até terminarem. Também vou te dizer que havia muito mais gente filmando do que assistindo e o cheiro de urina na madrugada foi(também) inacreditável.
Nasceu em Alexandria, Egito, é psicóloga de formação e mestre em administração de empresas.
Vidreira por profissão, confessa que: “…tenho na arte o pedaço ímpar do meu corpo. Já o pintei, dancei, soprei, escrevi-o. É nas palavras que ele encontra seu par menos fiel e mais pródigo”
Obrigado, Elvira! Na tua narrativa vive a ductilidade do vidro derretido que transformas em obras de arte!