Gente que Cuenta

“Criança: a’ turno”,
por Rubén Azócar

Sandro Botticelli Atril press
Sandro Botticelli,
Las tres gracias, 1482

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      Há cerca de vinte anos, em um lindo dia de verão, me vi envolvido em uma das coisas que mais detesto: comprar um carro. Enquanto o vendedor nos sobrecarregava com diferentes opções, nossos filhos estavam na “zona das crianças”. Entre várias diversões, havia um videogame que era o mais popular. Espontaneamente, cada vez que o “game over” aparecia na tela, a criança deixava o assento para que o próximo da fila pudesse jogar.

De repente, uma nova criança se juntou ao grupo. Quando chegou a vez dele de jogar, depois de perder, ele não saiu do assento e continuou jogando. Minha filha, Andrea, estava atrás dele na fila. Depois que isso aconteceu uma vez, depois uma segunda vez e finalmente uma terceira vez, Andrea – que não devia ter mais de três anos na época – o pegou pelo colarinho e disse: “criança, a’ turno”, ela o deslocou do assento, tomou seu lugar e assim restaurou a ordem estabelecida.

Recordando o momento, que foi bastante hilário, não consigo deixar de pensar que Andrea, com sua ação, foi proativa, justa e resolveu uma situação de conflito. Em suma, ela assumiu – provavelmente sem saber – uma posição de liderança.

Neste mês, celebramos o Mês da História da Mulher. Eu tive a sorte de ter grandes mulheres ao longo da minha vida. Minhas avós – Celia e Ana María – navegaram por circunstâncias difíceis em suas famílias e nos tempos em que viveram. Tenho uma mãe extraordinária – Dorita – que me transmitiu o amor pela leitura e pelas artes. Minha mãe americana – Cathy – me ensinou o valor da paciência, da calma e da compreensão. Minha esposa – Maray – é um ser único como companheira de viagem e como mãe.

Profissionalmente, também tive a sorte de ter grandes mentoras. Entre elas, e correndo o risco de não mencionar muitas delas: minha professora de Anatomia, Dra. Carmen Antonetti, que me transmitiu a importância de ter uma participação global na Universidade Central da Venezuela, minha Alma Mater. Dra. Marcelle Willock – que foi a primeira mulher a chefiar um Departamento na Escola de Medicina da Universidade de Boston, entre outras conquistas pioneiras para uma mulher de cor e latina – me deu a oportunidade de treinar sob sua orientação e serviu como meu guia por muitos anos. Dra. Joy Hawkins, com quem discuti cada passo da minha carreira profissional nos últimos vinte anos.

Portanto, sou um fã do liderança feminina. Quando é de alta qualidade, não é diferente da de uma boa mãe. É uma liderança compassiva e compreensiva, mas firme e orientadora. Tenho certeza de que cada leitor pode reconhecer uma mulher-chave em sua vida e, se tiverem a sorte de ainda poder contatá-las, tirem um momento para agradecer sua influência. É, afinal, o Mês da História da Mulher e por causa dela ou delas, também somos história.

Ruben Azocar Atril press
Rubén J. Azócar es caraqueño, médico anestesiólogo e intensivista, fanático del béisbol y vive en Boston -desde donde escribe- desde hace más de un cuarto de siglo.
rubenjazocar@gmail.com

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