
Mujer en una ventana
1936
Ao encontro de um amigo poeta, caminhava por um passeio no centro do Porto. A calçada era daquelas que de tão estreitas que mal cabe uma pessoa andando e prefere-se fazê-lo encostado na parede para evitar os carros. Não era como me deixar levar pelos meus pensamentos, mas nisso estava quando de repente encontrei o olhar de uma mulher que apenas mexia o prato de arroz com o garfo enquanto fingia ouvir mais uma vez o desabafo do companheiro da mesa.
Como a calçada era muito estreita e a mesa deles ficava encostada na janela do restaurante, apenas alguns palmos separavam meus olhos dos dela. Mas aquele momento foi o suficiente para eu entender aquela mulher, e nós dois desviamos o olhar como se reconhecêssemos que essa intimidade nós era proibida.
Ainda impressionado com a experiência, compartilhei com meu amigo ao encontrá-lo logo depois:
–“Percebes? Eu a entendi e nunca mais a encontrarei!”
–“Melhor assim”, disse o poeta, “porque a fantasia é sempre melhor que a realidade”.

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